Desde que lancei o Programa de Adestramento, entrei numa conversa com algumas pessoas sobre como começa uma relação D/s, visto que a maioria apenas é submissa na cama. Outras pessoas simplesmente querem saber como conhecer um dominador. Então, este post é para descrever: como começa uma relação D/s.

Acho que isso pode ser especialmente útil para pessoas que acham que BDSM simplesmente “acontece” e que os fetiches de um casal aparecem casualmente no meio do sexo. Não, é importante conversar e articular tudo. Um bom casal é aquele que troca ideia. E não seria diferente na relação de um dominador e um submisso.

O BDSM é totalmente acessível, não requer acessórios ou equipamentos e pode ser praticado em qualquer lugar. Tudo o que você precisa é de um parceiro disposto.

Por que as pessoas praticam BDSM?

O principal benefício é que a brincadeira D/s estimula outros sentidos do que somente o toque no pinto ou no cu. Claro que você consegue isso com relações tradicionais, mas o BDSM meio que serve de desculpa para testar novas formas de erotismo: a dor (leve ou moderada) pode ser um prazer, a tentação também, o jogo de sedução, o jogo de poder, entre várias outras formas. Todas elas podem ser fontes de prazer.

Através de uma relação D/s, você pode mergulhar mais fundo em seus desejos existentes e experimentar para descobrir desejos ocultos que você nem sabia que existiam. Isso pode expandir seu leque de possibilidades de prazer.

Além disso, é ótimo para casais pois ajuda a manter e até mesmo aumentar a intensidade sexual e emocional de um relacionamento. Ou às vezes para você sair do seu personagem tradicional e viver uma outra vida.

Mas vamos às praticalidades.

A Conversa.

Depois de ter um parceiro disposto, como vocês começam a relação?

Primeiro, decidam quem será dominante e quem será submisso, pelo menos durante uma determinada sessão. Se vocês gostam de trocar de papéis, podem alternar de vez em quando. Isso se chama “switcher” (ou trocador em português, mas se usa switcher mesmo). Algumas pessoas gostam de papéis estáticos; outras gostam de misturar.

É bom reforçar que dominante não é sinônimo de ativo; nem submisso de passivo. Existem muitos doms passivos e vice-versa. Então, não se atenha a isso.

A primeira fase, chamada de conversa, consiste em os dois se conhecerem e saber o que buscam. Mesmo entre casais, é importante ter a Conversa para entender o que cada um quer e pode tirar de uma relação D/s.

Por exemplo, explorar a dor te excita? Talvez o jogo de poder? Ou você quer experimentar com brinquedos e acessórios? Existem muitas possibilidades na brincadeira de BDSM. Se você for iniciante, até vale assistir alguns vídeos.

Vale lembrar que cada casal (ou trisal) tem uma dinâmica diferente. Então, não se importe em se inspirar em casais no YouTube, mas moldar o seu relacionamento de acordo com as característcas de cada um.

Na Conversa, você precisará entender o que cada um entende por BDSM, o que ele quer explorar. Quando são doms e subs que não se conhecem, a Conversa pode demorar muito mais e acontecer ao longo de sessões, nas quais os dois vão se conhecer — rotina, trabalho, como é a vida, etc.

Não se engane: quanto mais os dois estiverem em sincronia, para além do sexo ou das sessões, melhor. Um dom e sub devem ter algum tipo de relação.

A Negociação.

Agora a gente entra nos termos. Nesta fase, é justamente onde vocês vão explorar os fetiches, horários. como será a dinâmica (se será 24h/dia ou em sessões isoladas). Vocês também devem falar de limites, palavras de segurança, etc.

Se os dois forem iniciantes, não precisa complicar. O importante é que entender o que cada um quer da relação e, igualmente importante, o que cada um NÃO quer.

Portanto, a Negociação segue assim: quem será o dom/sub; quais os fetiches; quais as restrições; e quais as condições que a relação se dará; palavra de segurança.

Para a palavra de segurança, para iniciantes, eu costumo usar o sistema de farol. Verde quer dizer que pode seguir; amarelo é com precaução; vermelho é pare. Dessa forma, o dom pode avaliar como ele está indo, assim como o sub tem um pouco mais de voz.

Por fim, vocês podem decidir sobre os termos. Eu geralmente prefiro perguntar ao submisso o que ele gostaria de me chamar, o que fica mais confortável para ele, dentre os termos que eu gosto. Contudo, fica a seu critério. Tem dom que prefere um termo específico e é isso.

Termos pro dominante podem ser: dom, macho, mestre, senhor, homem, dono. Pro sub, pode ser: sub, fêmea, escravo, puta, cadela, (meu) obediente, (meu) brinquedo. Os termos podem ser mais específicos, dependendo do tipo de relação e fetiche. Para quem gosta de humilhação ou pet play, outros terms se aplicam, por exemplo.

Finalmente, depois da Negociação costuma existir o Contrato. Mas vou falar dele num próximo artigo. 

As primeiras sessões.

Chamamos de sessão um momento de atividade BDSM. Pode ser sexo, pode ser uma hora experimentando com tapas e chicotes, pode ser meia hora de comandos. Uma sessão é equivalente ao sexo numa relação, embora nem sempre ocorra penetração.

Já a relação D/s é o que acontece fora das sessões – a relação em si. Se vocês acordarem entre si, vocês podem ter uma relação D/s durante o dia a dia. Por exemplo, seu mestre vai te dar ordens para você cumprir. Ou você vai trocar mensagens curtas durante o dia, fazendo um roleplay ali, fora do ambiente de uma sessão.

Se você é o dominante, coloque-se na mentalidade de poder comandar seu parceiro a fazer o que você desejar. Não peça permissão. Apenas comande. Então, deixe seu parceiro reagir e responder.

Se você achar que está forçando demais, pergunte como ele se sente, a fim de que use o sistema de sinais. Esteja disposto a explorar. Dê alguns comandos além do que você considera razoável. Observe como seu parceiro responde. Você pode se surpreender. 

Se você é o submisso, concentre-se em ser muito obediente ao seu parceiro. Fale, mova-se e comporte-se de forma submissa. Entre na mentalidade de que o propósito da sua vida é servir, obedecer e agradar ao seu parceiro. Essa é a única coisa em que você precisa pensar. É fácil e mentalmente relaxante obedecer, não é?

Seja lá o que seu parceiro ordenar, obedeça imediatamente e com entusiasmo. Esforce-se para continuar dizendo sim (ou “Sim, Mestre”) para tudo o que você conseguir suportar. Incentive seu parceiro a lhe dar ordens mais selvagens, ousadas, sensuais, etc., especialmente se você achar que seu parceiro ainda está se segurando.

Importante dizer que, não importa a relação, ela sempre deve ser pautada nos príncipios de ser são, seguro e consensual. Você deve estar sóbrio e capaz de consentir; ela deve ser segura para ambas as partes ou com riscos conhecidos; e obviamente as duas partes devem estar de acordo.

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